Um dia estava nevando. Mesmo eu morando no interior de Minas, nevar era improvável, principalmente naquele dia ensolarado. Contudo, nevava. Peguei um daqueles pequenos floquinhos de neve na mão e descobri, através deles, que aquilo não era neve, mesmo sendo branquinho como tal. Paina era o nome daquilo, como minha avó falou. Muito antigamente, era usada para fazer travesseiros, antes das coisas sintéticas, antes dos travesseiros de astronauta.
Olhei mais para frente e vi sua árvore, enquanto subia aquelas calçadas históricas. Era bonita, cheia de paina branca, linda, antiga, simples. Ela perdia aquelas pequenas lãs pelos ares, para a chegada do inverno, perdendo também suas cores coloridas. Dormir com a consciência limpa e deitada naquela paina toda devia ser bom, pensei e suspirando profundamente, mexendo as mãos de um lado para outro para brincar com os floquinhos, percebi que a rua estava cheia deles. Caia paina em cima dos carros modernos, das casas com internet e travesseiros antialérgicos, das pessoas corridas e sem tranquilidade, caia em cima de mim.
Naquele dia nevava e só eu percebi.
Luisa Soresini - autora
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